Pais, atentem a uma tragédia silenciosa que pode estar acontecendo neste momento em suas casas: segundo o médico psiquiatra Dr. Luís Rojas Marcos, nos últimos 15 anos as estatísticas apontam para uma situação alarmante em relação à saúde mental na infância. Segundo ele, há um aumento constante de crianças com transtornos, assim como picos de manifestações destes problemas em proporções epidêmicas, mesmo antes da pandemia da Covid-19.
Podemos inferir que o isolamento social provoca (e ainda provocará) mudanças comportamentais em nossas crianças, porém, ainda não é possível mensurar quais são elas e os efeitos a curto, médio e longo prazo. Fato é que a monetização do conteúdo e a convivência reduzida às redes sociais (mas aumentada em sua duração), quando emparelhadas junto ao novo confinamento, causaram um enfraquecimento na formação de relações significativas saudáveis e reais para jovens e crianças.
Já há alguns anos, com o aumento do acesso ao universo virtual-cibernético, os pais não conseguem acompanhar a qualidade do que seus filhos vêem, do que eles assistem e compartilham em seus aparelhos em tempo integral. Essa conexão aos hologramas e algoritmos ocorre em detrimento da vinculação ao mundo real e esta criança/jovem perde referências e modelos essenciais de comportamento. A família não consegue mais influenciar: agora, isso é papel do influencer, e sabe-se lá o que ele está dizendo a todo instante no seu canal do YouTube!
Enquanto isso, junto à fuga para o universo etéreo da virtualidade, o número de tentativas de suicídio concretas só aumenta. Esta é a fuga máxima e definitiva, sem volta. E vejam, tais dados já eram preocupantes mesmo antes da pandemia. De 2005 até 2020, constatou-se:
– Que uma em cada cinco crianças tem problemas de saúde mental.
– Houve um aumento de 43% nos transtornos de déficit de atenção e hiperatividade.
– Houve um aumento de 37% na depressão entre adolescentes.
– 200% de aumento (!) na taxa de suicídio de crianças entre 10 a 14 anos.
Estes dados inspiram perguntas: para onde migrou o prazer da vida? Quem é o capitão deste navio, para evitar que nossas joias mais preciosas, nossos filhos, desenvolvam um estado emocional tão devastador? Ainda há tempo para esse resgate, para assumir o controle deste leme? Tarefa fácil, não é, mas possível e extremamente necessária.
Pais, deixem os filhos perceberem o quanto vocês se esforçam para entendê-los, no ritmo deles. Mantenham-se emocionalmente disponíveis para se conectar com sua família e ensinar-lhes a autorregulação e habilidades sociais de convivência. Desarmem-se para ouvi-los e lembrem-se que sermão não é diálogo! Tornem-se um tipo de treinador emocional de seus filhos e saibam que todo o arco dos sentimentos deve ser respeitado e valorizado, mesmo quando é incômodo, constrangedor ou enraivecedor. Ensinem-os a reconhecer e gerenciar seus próprios sentimentos negativos a partir de modelos reais, não apenas virtuais ou verbais, com suas ações e atitudes.
Ofereça aos filhos um estilo de vida equilibrado, atentem-se a isto: nem tudo que eles querem é necessário, e nem tudo que é necessário eles querem. Digam “Não” quando perceberem que eles estão errando, mas entendam que esta palavra precisa de tempo para ser digerida e processada. Digam “Sim” aos seus filhos quando se orgulharem de suas decisões, jamais por falta de coragem de contrariá-los. São medidas nada dispendiosas ou elaboradas, mas fazem toda a diferença para que eles aprendam a valorizar suas vidas.

Alessia Castro

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2 thoughts on “O V@lor da Vid@”
Janete da Silva Correa
(29 de setembro de 2020 - 7:12 pm)Impressionante estes dados, alerta e nos deixa na obrigação de começar a fazer algo. Parabéns.
Lucimara
(12 de setembro de 2020 - 9:14 am)Parabéns Alessia esse alerta precisa chegar ao maior número de pessoa possível ,é importante estar atento .