O que isso quer dizer?
Que ela tem que ser livre de obrigações e responsabilidades que cabem somente aos adultos. Uma criança saudável tem que brincar, viver no mundo imaginário dela, correr, pular, saltar e, principalmente, ser feliz.
Vejo muito, hoje em dia, pais delegando funções aos filhos, que não cabem a eles exercerem, não importa o motivo. Sabemos que a necessidade financeira faz muitas famílias colocarem as crianças para trabalhar e para ajudar no sustento da casa; porém sou extremamente contra esse tipo de atitude. Compreendo que com a fome não se brinca, mas também entendo que isso não é e nem pode ser uma responsabilidade passada para uma criança, com idade igual ou inferior a 10 anos.
Vim de uma família humilde, onde tive um pai muito batalhador que nunca deixou faltar nada em casa. Nunca tivemos uma vida de luxo, mas eu e meus irmãos éramos felizes, pois nossos pais nos blindavam dos problemas. E eles não eram poucos: problemas com moradia, desemprego, cobranças… Enfim, tudo que pode ocorrer em qualquer família que não seja da alta sociedade. Passei minha infância toda com uma boneca e um ursinho que ganhei aos 4 anos de idade. Brinquei com eles até a minha adolescência. Inclusive, os tenho até hoje. O que quero dizer é que, os adultos devem blindar seus filhos dos problemas. Quando eu tinha 6 ou 7 anos, não sabia que não tínhamos casa própria, não sabia quando meus pais estavam com problemas, até porque, esses problemas eram deles e não meus. Eu e meus irmãos, só precisávamos estudar e brincar. Nossa única responsabilidade era com estudos. O resto era só brincadeira.
Com o tempo, a gente descobre as coisas e vai entendo naturalmente como a vida de verdade funciona. Não precisa pular etapas. Não precisa se preocupar em ganhar dinheiro para ajudar no aluguel ou nas compras. Isso tem que ser obrigação dos adultos e ponto final. Hoje sou grata pelos meus pais por isso. Conforme cresci e entendi o que eles passaram para segurar as pontas, valorizei o que foi feito e tenho muito orgulho deles por isso.
Tento ser uma adulta melhor e é claro, seguir o mesmo exemplo. Falando como profissional da área, digo que criança tem que ser criança e as brincadeiras são fundamentais no desenvolvimento motor, cognitivo e
sensorial delas. O jogar, o brincar, não só dá prazer, como ajuda no aprender, no expressar e no sentir. Uma criança que brinca, se desenvolve mais facilmente e, sem dúvida, é uma criança mais feliz. Citando Winnicott (1975) “a brincadeira é universal e é própria da saúde: o brincar facilita o crescer, logo a saúde”. Assim como os pais devem deixar que elas se sujem, caiam, se levantem, corram descalças na chuva, na lama. Tudo faz parte de um grande aprendizado, além é claro, de ajudar a criar imunidade.
Sujar-se faz parte do aprendizado. Pesquisadores da School of Medicine da University of California, em San Diego, descobriram que o excesso de limpeza pode prejudicar o desenvolvimento das defesas do organismo. Tal
estudo embasa a “hipótese da higiene”, que relata a importância do contato com as bactérias, na primeira infância, para que as crianças fortaleçam seu corpo contra alergias e infecções. Como dizia meu falecido pai: “ O que
não mata, engorda” (risos). Tudo que é em excesso, faz mal, inclusive, o excesso de cuidado.
Toda criança tem o direito único e exclusivo de apenas poder ser criança.
Uma criança feliz será um adulto feliz. Se você que está lendo esse artigo tem crianças pequenas em casa ou pretende um dia ter, permita que elas exerçam apenas uma função na infância:
sejam crianças…
Fabiane Eise
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